Por Iuri de Castro Tôrres (Publicado 25/10/2010 em Folha Teen)

A UWC (United World Colleges) está com inscrições abertas para quem quiser se candidatar a uma das sete bolsas de estudos para os 13 colégios que a instituição mantém no mundo. O prazo é até 19 de novembro.

Voltadas para alunos que estão concluindo o 1º ano do ensino médio, as bolsas podem ser integrais ou parciais. Os aprovados estudam por dois anos fora do Brasil.

Criada na década de 50 pelo educador alemão Kurt Hahn, foi concebida como um ambiente multicultural.

Os colégios são mantidos com doações e convênios. Têm apoio da ONU.

"Aprendi a ser mais tolerante", conta Ísis Semenzato, 19, que estudou na Itália.

Breno Maciel, 18, de Belo Horizonte, chegou à Índia em agosto do ano passado.

Ele conta que a adaptação foi difícil, mas, todos os alunos estavam na mesma situação, e isso ajudou.

"Somos uma família formada por 70 nacionalidades, milhares de ideias e incontáveis sonhos", diz Breno.

Segundo Helena Ungaretti, uma das coordenadoras da UWC no Brasil, o processo de seleção tem três etapas: prova escrita, entrevista pessoal e convívio.

O perfil dos alunos é variado, mas proatividade e facilidade de adaptação contam. Todos os alunos têm de fazer atividades físicas, artísticas e de voluntariado.

Mais informações no site da UWC: www.uwc.org.br.

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Leia abaixo entrevista com o estudante de Belo Horizonte Breno Maciel, que chegou ao colégio UWC da Índia em agosto de 2009.

Folha - Como ficou sabendo da UWC?
Breno Maciel - Fiquei sabendo da UWC através de uma amiga. O irmão dela foi selecionado para estudar no colégio da Noruega. Ela sempre me falava das experiências impressionantes que ele vivia em um lugar com tamanha diversidade cultural. Alguns meses depois, dois ex-alunos do meu colégio passaram em minha sala de aula divulgando o processo de seleção para a UWC. Ele falaram por aproximadamente 20 minutos sobre a vida em um UWC e, agora, sendo parte de um destes colégios, sei como é fácil impressionar e ficar impressionado com algumas poucas histórias sobre este lugar.

Como foi o processo de inscrição?
Entusiasmo e ansiedade são as palavras que melhor descrevem o processo de seleção. Do primeiro passo da inscrição, que é o cadastro que temos de fazer no site, até o último passo para a seleção, que é o convivo, existe sempre um sentimento de entusiasmo (por estar dando um passo em direção a um sonho), mas também ansiedade, por saber que a realidade nem sempre é como esperamos. Porém, eu costumo dizer que a seleção já é em si uma das mais profundas experiências UWC. Este foi um momento em que tive de parar e refletir sobre o que eu realmente queria: quais passos daria no futuro e porque daria estes passos. E isso é uma das coisas mais importantes que aprendemos em um colégio UWC: a refletir sobre nossas ações, a ponderar as possibilidades e almejar o futuro que acreditamos ser validos. Eu acredito que todos que passaram pela seleção, mesmo que não tenham sido selecionados, guardam este sentimento como sendo um desafio, mas também um momento de autoconhecimento.

Quando chegou à Índia?
Cheguei à Índia no final de agosto de 2009. Posso dizer que a chegada foi um dos momentos mais excitantes. Deixar o aeroporto em plena época das monções - uma das chuvas mais intensas do planeta - e cair em uma cidade vibrante, de transito caótico e diferentes cores e culturas, como é Mumbai, marcou as horas mais impressionantes que já vivi até hoje. Daria tudo para viver este momento mais uma vez!

Como foi a adaptação?
A adaptação foi bem mais tranquila do que pensava. Claro que, no início, senti falta da família e dos amigos. Mas tudo é uma questão de tempo. De alguma forma, nós aprendemos a viver a distância das pessoas que amamos. Agora, adaptar-se à Índia é outra coisa. E esta é a parte mais legal: ter de se acostumar com a comida apimentada, a comer chapati com dal (pão indiano com caldo típico) com a mão. Também tem a questão da sensibilidade cultural. Temos de prestar atenção na maneira com que nos vestimos e comportamos fora da escola, afinal a cultura indiana é bem conservadora.

Você tem aulas de quê?
Aqui fazemos o Bacharelado Internacional. Este programa nos permite selecionar as matérias que preferimos, o que nos dá a liberdade de focar nos conteúdos que pretendemos cursar no futuro. A escola também oferece programas extras. No meu caso, eu curso filosofia, economia, sistemas ambientais e sociais, português, inglês, matemática e cinema. Como cursos extras, faço hindu, "esta e a Índia", participo de debates sobre assuntos globais, assisto palestras de convidados vindos de várias parte do mundo e o curso Perspectivas Globais, oferecido pela Universidade de Cambridge. É bastante trabalho!

Como é a convivência com os outros alunos?
A convivência é ótima e nos permite aprender muito a partir das experiências que temos. A escola tem aproximadamente 200 alunos e todos moram, estudam e crescem juntos. É como uma grande família. Todos compartilham as ansiedades, aflições, alegrias e prazeres. É difícil pensar na minha vida sem considerar a influência de cada pessoa que compartilha comigo as maiores mudanças. Somos uma família formada por 70 nacionalidades, milhares de ideias e incontáveis sonhos.

Seus melhores amigos são de que países?
É difícil nomear um grupo de melhores amigos. Para citar alguns: Anis, da Argélia; Krista, da Suíça; Julu, da Índia; Jennie, da Suécia; Linh, do Vietnã; e Zibusiso, de Zimbábue.

Por que quis estudar em uma escola UWC? Já conhecia antes?
O que me mais interessou sobre o UWC foram os ideais que unem milhares de jovens no mundo inteiro: o conceito de que podemos viver em sociedade pacificamente. Procurava uma forma de fazer valer os ideias de igualdade e fraternidade nos quais sempre acreditei e lutei. No Brasil, eu estava envolvido no movimento estudantil e na militância política. Quando fiquei sabendo do UWC, vi uma oportunidade de desafiar e promover minhas próprias habilidades e virtudes. Vi a chance de ampliar meu horizonte sobre o mundo e aprimorar minhas ideias e ferramentas de luta. O UWC foi a chance que achei de me tornar a pessoa que eu queria ser.

Qual a lição mais valiosa que aprendeu até agora?
Acho que o UWC me mostrou a importância da diversidade. Quando eu falo em diversidade, estou pensando bem além das diferenças de nacionalidades e cultura. Hoje vejo sobretudo a importância da diversidade de ideias em formar pessoas mais aptas e dispostas a enfrentar os problemas do mundo. Muita gente pensa que cada um tem sua opinião e que oprimi-la é um grande erro. Mas estas mesmas pessoas não param para ouvir e entender as opiniões dos outros, eles apenas a aceitam porque é ético. Mas aqui eu aprendi o valor de entender e questionar cada opinião, afinal, não é porque podemos pensar diferente que não exista opiniões mais verdadeiras do que outras. Existe uma verdade e existe um melhor. Cabe a nós achá-los.

Como você acha que essa experiência vai ajudar no seu futuro?
Digo que minha vida se divide antes e depois do UWC. Ainda não possuo o depois, mas já tenho muitos planos. Tenho certeza de que os valores e ideias que aprendi neste lugar me acompanharão para o resto da vida. Sinto ter um compromisso com o projeto do mundo unido, assim como com o meu país. Certamente aplicarei na minha vida tudo que aprendi neste lugar. Da mesma maneira que todas pessoas que encontrei tiveram uma influência incomparável em minha vida, também espero poder influenciar muitas outras pessoas ao redor do Brasil e do mundo.

O que você faz aí, além de estudar? Tem tempo para se divertir?
Estudar e só uma pequena parte do que acontece aqui. Trilhas em montanhas fantásticas, canoagem nos rios do Himalaia, meditação e ioga em centros espirituais, a agitação das maiores cidades do mundo, a beleza de uma cultura milenar e as longas viagens nos incomparáveis trens indianos são só algumas das atividades paralelas. No dia a dia, praticamos esportes, fazemos trilhas, temos grupos culturais e sociais, saímos para restaurantes e cinemas.